Português Europeu e português do Brasil - As diferenças

20:22

Este post foi retirado do meu livro de dicas para jovens autores, Para escritores no Wattpad, e está disponibilizado na íntegra nessa mesma plataforma.

Bem, chegou a hora de falar abertamente sobre este assunto. E que melhor forma de o fazer, se não dedicando-lhe um capítulo?


O motivo que me fez querer escrever sobre este tema foi algum desconhecimento que encontrei das duas partes face à língua do outro lado do Atlântico. Há diferenças conhecidas por todos, como o uso do "você" e do "tu", do "celular" e do "telemóvel", ou até mesmo do controverso "Ora, pois".

Além do mais, deparei-me recentemente com um comentário no Wattpad de alguém que dizia abandonar uma obra assim que percebesse que estava escrita em português de Portugal. Não digo que não tenha o direito de o fazer, no entanto custa um pouco, sendo portuguesa, perceber que essa descriminação ainda existe.

Então, por que não procurar diminuir a distância entre as duas falas comentando sobre os aspetos que as separam? Quais são, afinal, as maiores diferenças entre o português Europeu e o português do Brasil? 

Tu e Você

Como já tinha referido, esta é a mais óbvia. Apesar de ambos serem utilizados nos dois países, a formalidade é diferente. Por exemplo, em situações informais no Brasil utiliza-se "você" e em Portugal o "tu". 
Por cá também usamos o "você", porém apenas em circunstâncias em que o "tu" é demasiado informal, podendo até ser considerado falta de respeito, e a terceira pessoa formal demais.
E quanto ao uso do "tu" no Brasil? 

Os acentos

Em português do Brasil escreve-se "gênero"; e em português Europeu "género". É uma diferença tanto de escrita como na forma de ler, e acontece em imensas outras palavras, como "tênis" e "ténis", "pôster" e "póster",  entre outras.

Dezesseis/dezasseis ou dezessete/dezassete

Esta é uma daquelas diferenças que quem não conhece pode até achar que está mal escrito. No entanto, "dezesseis" no Brasil está tão correto como "dezasseis" em Portugal. É apenas a pequena troca de uma letra.  Mesmo assim, é capaz de afastar um leitor que não esteja informado, por este achar que o autor da obra não sabe escrever números.

Outras palavras que também divergem:

– Ônibus/autocarro;
– Ponto de ônibus/paragem de autocarro;
– Carona/boleia;
– Trem/comboio;
– Banheiro/casa de banho;
– Porão/cave;
– Café da manhã/pequeno-almoço;
– Terno/fato;

As (dis)semelhanças entre rapar*** e garota

Coloquei os asteriscos porque esta palavra não é vista com bom tom no Brasil. Já em Portugal, é amplamente utilizada como o feminino de "rapaz", sem nenhuma conotação negativa.
O motivo de estar a enumerá-la é por não ser difícil encontrar no Wattpad em obras de escritores portugueses a palavra, e a maioria não faz ideia deste significado ofensivo. E até quem sabe por vezes deixa escapar sem querer, de tão habituado que está a utilizá-la. 

"Por que não?" e "Porque não?"

Quando este guia ainda estava bem no início, uma leitora deixou-me um comentário a pedir que dedicasse um capítulo a explicar a diferença entre o uso do "por que", do "porque" e do "porquê". Quanto ao "porque" e ao "porquê" conseguia explicar sem problema. Contudo, em relação ao "por que", fiquei com sérias dúvidas.
Depois de uma intensiva pesquisa, descobri que em Portugal tanto faz dizer "por que não?" ou "porque não?", pois ambas se usam na forma oral e estão corretas. E era justamente esta segunda que costumava utilizar. Claro que agora, após esse estudo, comecei a usar o "por que" em todas as ocasiões.

Fato/facto e contato/contacto

Antes do Acordo Ortográfico, o uso destas tão contestadas letras era uma dor de cabeça para quem fosse de Portugal e publicasse textos na Internet. Digo isto porque houve uma altura em que participei num concurso que envolvia escrever um capítulo extra do livro Divergente. E, na minha inocência, escrevi como no dia-a-dia, logo "ação" ficou "acção". Até que, no dia em que os capítulos foram tornados públicos para votação, vi uma enxurrada de críticas à forma como "ação" estava escrita.

Felizmente (ou infelizmente) o Acordo Ortográfico veio mudar muitas coisas. E em Portugal as palavras perderam as letras que não se liam. Todavia, algumas ganharam uma dupla forma de serem escritas, como "fato", que, visto que há quem leia o "c", pode ser escrita como "facto", estando ambas certas.
Pessoalmente, uso as duas formas e pode até acontecer ambas aparecerem no mesmo capítulo. É que a maneira como soam em frases diferentes pode variar. E, na altura em que se escreve, esses pequenos detalhes passam um pouco ao lado.

O Acordo Ortográfico de 1990 recentemente tornado obrigatório no Brasil trouxe também outras diferenças para o português brasileiro, como a eliminação do trema, em que "cinqüenta" se tornou "cinquenta"; a perda de alguns acentos, como "idéia" que passou a escrever-se "ideia", ou "vôo", que se tornou "voo". Além do mais, as regras da colocação do hífen também se alteraram, junto ao alfabeto, que ganhou três novas letras, o K, o W e o Y.


Haver tanta variedade dentro da mesma língua é muito interessante. E mais incrível ainda é a forma como nos entendemos, algumas vezes com mais ou menos dificuldade, mas sempre sem desistir de ultrapassar essas diferenças. Afinal, aquilo que nos une é mais do que aquilo que nos separa.

Estas foram as maiores diferenças que me lembrei, mas é certo que faltarão muitas mais. Caso se lembrem de mais alguma, não hesitem em deixar nos comentários
 Agradeço desde já!

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1 comentários

  1. O problema das diferenças de palavras é praticamente inexistente, pelo menos para os Brasileiros.
    O nosso país é muito grande, temos entre nossos estados, e as vezes dentro deles, palavras diferentes para algo.
    Uma das mais famosas discussões por aqui, por exemplo, é a definição do que é biscoito ou bolacha, o que varia de um estado a outro.

    A estrutura do português é diferente. Vocês escrevem no dia a dia de uma forma que, para nós é uma "forma culta", ou uma "forma arcaica". Uma forma que já utilizamos por aqui no passado, antes do Brasil produzir sua própria semantica.

    Esse tipo de estutura dá ao texto de um escritor portugues, mesmo que contemporaneo, um tom antigo aos "ouvidos" de um leitor do Brasil.

    Parece que, por exemplo, uma rapariga (a palavra deixou de ser ofensiva) que escreve sobre seu dia a dia na escola, a um leitor brasileiro é uma pessoa idosa, falando sobre o passado.

    Mas é uma questão apenas de costume. Eu, por exemplo, adoro ler o que escrevem os escritores portugueses.

    Me despeço convidando a ler meu livro "A cura do odio" que é sobre um rapaz de uma favela Brasileira que inicia um romance com uma Norueguesa.

    Conheça a favela de um outro modo, uma visão unica, de uma pessoa comum que estuda, trabalha e tenta apenas viver sua vida antes de um "furacão loiro" invadir sua vida e colocá-la de cabeça para baixo.

    https://www.wattpad.com/story/92124089-a-cura-do-%C3%B3dio

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